Rosângela Ribeiro*
A Etologia, que é o estudo do comportamento dos animais, é fundamental para que nós, humanos, saibamos como interagir com eles. Não somente interagir, mas também compreendê-los, saber como eles se comportam, como eles se sentem. E essa interação tem reflexo direto no bem-estar dos animais. Por meio da Etologia podemos conhecer, por exemplo, o comportamento natural dos elefantes. Sabendo que essa espécie é gregária (anda em bandos) e caminha vários quilômetros por dia quando em seu habitat natural, podemos concluir que é extremamente nocivo manter elefantes em circos, onde costumam ficar presos e isolados. E estudando o comportamento de outras espécies, como leões, zebras, girafas, chimpanzés e aves, podemos chegar a conclusões semelhantes.
Recentemente a imprensa noticiou a morte de uma treinadora, num aquário dos Estados Unidos. Por que isso ocorreu? Será a orca assassina? Na verdade, a orca vinha sendo mantida em um tanque, ambiente totalmente inapropriado para a espécie, que precisa da vastidão dos oceanos. Além disso, esse animal é um predador e, sob o estresse do aquário, exerceu seu comportamento natural atacando uma pessoa com quem aparentemente mantinha um vínculo afetivo.
Mas até que ponto é possível se relacionar com animais selvagens ou silvestres? O estudo do comportamento animal nos mostra que essas classes de animais não podem ser utilizadas em entretenimento, nem como animais de companhia e muito menos como pets. E isso não só pelo fato de estarmos colocando nossas vidas em perigo (quando falamos de animais selvagens), mas também a dos próprios bichos (quando falamos de animais silvestres). Não são raras as pessoas que compram papagaios, por exemplo, em petshops. Pode parecer simpático manter uma ave dessas em casa mas, na verdade, além de as pessoas não estarem atendendo às necessidades intrínsecas à espécie, ainda estão contribuindo para o tráfico de animais. Além do que nunca conseguiremos reproduzir o habitat natural de um animal.
Estudando o comportamento dos animais é que os cientistas elaboraram uma forma de avaliar o bem-estar deles. Essa ferramenta, de conhecimento internacional, se resume nas chamadas Cinco Liberdades. Para se encontrar em condições de bem-estar, os animais precisam estar:
1) Livres de fome e sede
2) Livres de desconforto
3) Livres de dor, ferimentos e doenças
4) Livres para expressar seu comportamento natural
5) Livres de medo e angústia
E para sabermos se o animal está expressando seu comportamento natural é necessário ter um conhecimento profundo sobre o comportamento desse animal, o que requer anos de estudo e observação. Muitas vezes achamos que estamos provendo tudo para um determinado animal – água, alimento, abrigo –, mas por desconhecer o comportamento da espécie, podemos deixar de prover algo essencial àquele animal, algo não relacionado à saúde física, mas à saúde mental.
Os animais, assim como os humanos, também possuem necessidades que vão além das necessidades fisiológicas: eles precisam se relacionar com seres da mesma espécie, interagir com o meio ambiente, enfrentar desafios, etc. Sem falar que são seres sencientes, isto é, capazes de sentir dor, alegria, medo, estresse e até saudade. Portanto, estudar o comportamento dos animais não só se faz necessário, como também é preciso que as pessoas apliquem tais conhecimentos para elevar os níveis de bem-estar deles e os protejam contra maus-tratos, crueldade e até mesmo extinção.
Rosangela Ribeiro / Gerente de Programas Veterinários da Sociedade Mundial de Proteção animal
Fonte: Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário