sábado, 6 de março de 2010

Algumas idéias sobre a educação vegana

© 2008 Gary L। Francione
©Tradução: Regina Rheda
©Ediciones Ánima- Publicado en: http://www.anima.org.ar

Texto do Blog de Gary L. Francione

Vou tentar, de um modo preliminar, enfrentar um assunto que gera muita controvérsia e sobre o qual eu recebo um monte de e-mails. O assunto, grosso modo, é: como os veganos devem se relacionar com os onívoros, dado que os veganos éticos entendem que o uso de animais envolve graves violações dos direitos dos animais não-humanos a não ser tratados como recursos dos humanos? Os veganos éticos têm a obrigação de entrar em confronto com os onívoros e de se relacionar com eles do mesmo modo como nós nos relacionaríamos com as pessoas que cometem crimes graves contra humanos?

Em determinado sentido, você pode prever minha resposta a essa questão, já que eu argumento que a principal obrigação dos defensores dos animais é engajar-se na educação vegana não-violenta e criativa.

É difícil educar as pessoas sobre qualquer coisa, se você entrar em confronto com elas. Mas isso não quer dizer que você não possa desafiar o que elas pensam. Como professor de Direito há quase 25 anos, eu certamente tento desafiar meus alunos, mas evito brigar com eles, porque o confronto é o modo mais efetivo de assegurar que o processo educacional não funcione.

O confronto é uma maneira particularmente ineficaz de se comunicar quando as pessoas nem ao menos compreendem o significado ou o contexto da sua posição. E quando se trata da questão do uso de animais, a grande maioria das pessoas está na mais completa escuridão. Expressar a convicção de que elas não devem consumir nenhum produto animal é semelhante a lhes dizer que elas não devem tomar água nem respirar.

Pense nisso.

A maioria das pessoas foi criada para acreditar que é “natural” ou “normal” comer produtos animais. Elas cresceram em lares onde uma importante parte da vida familiar incluía sentar-se à mesa e consumir pedaços de animais. Suas memórias a respeito de uma falecida avó ou outro parente querido estão ligadas a algum prato feito com carne que esse parente preparava nos feriados. Elas foram criadas de acordo com tradições religiosas que lhes ensinaram que os animais não-humanos não têm “almas” ou são, por outras razões, espiritualmente inferiores aos humanos.

Em certos aspectos, nosso especismo está, em termos sociológicos, mais profundamente embutido—e, assim, mais “invisível”—do que algumas formas de discriminação contra outros humanos. Uma pessoa com fortes crenças racistas pode não aceitar a igualdade racial, mas entende o conceito. Já a maioria dos humanos não consegue sequer processar a idéia de uma vida sem produtos animais.

Dentro da medida em que o movimento de defesa animal tem tentado conscientizar a sociedade quanto ao problema, a maior parte de seus esforços tem se concentrado na questão do tratamento “humanitário”. Isto é, o movimento não propõe o veganismo como a posição “automática”. Ao contrário, o veganismo é caracterizado como a escolha “difícil” ou “heróica”. Conforme eu discuti em meu ensaio do início deste mês (e em outros ensaios do blog), o movimento de defesa animal incentiva ativamente o consumo de carne e produtos animais “felizes”.

Então, quando os veganos entram em confronto com os onívoros quanto a esse problema, eles o fazem não apenas no contexto de uma forte tradição cultural e religiosa que considera totalmente normal usar os animais, mas também no contexto de um movimento de defesa animal que também vê o uso como uma coisa normal e que se concentra principalmente no tratamento. Graças ao moderno movimento bem-estarista, que se apropriou do rótulo “direitos animais”, os veganos podem ser menosprezados e chamados de extremistas, e o confronto é mais do que ineficaz: é necessariamente contraproducente.

Se é que vamos progredir no sentido de uma maior aceitação do veganismo, precisamos educar. E precisamos educar de uma maneira não-violenta, sem confrontos, que leve em conta a realidade social, a religiosa e a do “movimento”. Isso não significa que o uso de animais não seja um ultraje moral; significa apenas que nossos esforços para educar sobre esse ultraje moral precisam levar em conta a visão que a vasta maioria dos humanos tem da questão.

E isso me leva a fazer um comentário final. Muitos daqueles que apóiam o confronto têm amigos que são “defensores dos animais” e que talvez sejam “vegetarianos”, não veganos. Talvez sejam estas as pessoas que devem ser abordadas de maneira menos flexível!

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